quinta-feira, 12 de junho de 2008

Nos jardins de Monet

De trem não leva mais do que 1h45. Sair de Paris em direção à cidade de Vernon é a certeza de que Giverny, vilarejo que serviu de residência para Claude Monet e para uma colônia de artistas no início do século XX, se aproxima. A casa do mestre do impressionismo foi restaurada e aberta ao público na década de 80. Vale frisar que graças ao investidor norte-americano Terra, criador da Terra Foundation for American Art. Propietário da casa e dos jardins, foi ele quem levantou fundos para a reforma de ambos e para a manutenção. Aberta de 1º de abril a 31 de outubro ( no inverno não dá, né), a casa de Monet, ou melhor, Giverny é um bálsamo para os olhos, para o corpo, para a cuca!

Vista da ponte japonesa. Esse lado do jardim de Monet quase foi desapropriado pelo governo francês. Com a intervenção do investidor americano, foi feita uma passarela que passa sob a rodovia que dividiu em duas a propriedade de Monet.


                                       Ninféias, jardim japonês e choronas. De arrepiar!

                                                             Vista do quarto de Monet.

                                                         Os jardins em plena primavera.


                                                               A Casa de Claude Monet.


Ir aos jardins de Monet, andar pela casa do mestre cheia de quadros de arte japonesa (ele tinha uma gravura de Hokusai, algo para poucos), passear pelos jardins japoneses, ver as ninféias e a ponte é algo tão indescritível que vos esvio as fotos. Assim, quem sabe, vocês vão sentir um pouquinho da emoção que eu senti.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Para aqueles que amam vinhos, poesias e virtudes...

Embriaga-te

Deve- se estar sempre bêbado. É a única questão. 
A fim de não se sentir o fardo horrível do tempo, 
que parte tuas espáduas e te dobra sobre a terra. 
É preciso te embriagares sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude?
A teu gosto, mas embriaga-te.
E se alguma vez sobre os degraus de um palácio, 
sobre a verde relva de uma vala, 
na sombria solidão de teu quarto, 
tu te encontrares com a embriaguez já minorada ou finda, 
peça ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, 
a tudo aquilo que gira, a tudo aquilo que voa, 
a tudo aquilo que canta, a tudo aquilo que fala, a tudo aquilo que geme
Pergunte que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, 
o relógio, te responderão. 
É hora de se embriagar !!!
Para não ser como os escravos martirizados pelo tempo, embriaga-te. 
Embriaga-te sem cessar. De vinho, de poesia ou de virtude.
A teu gosto.

(Charles Baudelaire)

domingo, 18 de maio de 2008

Uma noite no museu


Pode até ser título de comédia americana, mas foi justamente isso que aconteceu! O Ministério da Cultura da França promove, de tempos em tempos, um evento delicioso, La Nuit des Musées. A partir das 18h até às 24h, alguns museus abrem as portas gratuitamente para o público. A dificuldade é escolher entre o Louvre, d'Orsay, Marmotain, entre outros. Eu fiquei com Versailles! A ida até o Château não leva mais do que 30 minutos, mas a visita se estende por 3, 4, 5 horas. De portas abertas, o palácio construído por Luís XIV em 1682 é um delírio concretizado. O luxo não cabe em palavras. A suntuosidade é tanta que pessoas boquiabertas e murmurinhos como ah, oh, uhn... são normais. Mas o diferencial da noite é que nas paredes, tetos, portas e em algumas janelas foram projetadas cenas de filmes feitos em Versailles. Para você entender melhor: quando entramos no castelo, nas escadarias que levam aos salões da corte, cenas do filme "La Revolution Française" de Robert Enrico foram projetadas no teto; ao passar pelo Salão de Marte imagens do filme "Le Roi Danse" de Gérard Corbiau; depois de cruzar a inexplicável Galeria dos Espelhos, cenas do longa "Marie-Antoinette" de Sofia Coppola e por aí vai. Parecia um sonho! Algo inefável. Com paredes cobertas de brocado, imensos lustres de cristal, pinturas e esculturas prestes a soltarem alguma confidência palaciana, Versailles tem ainda outro tesouro, os jardins. Obra da mais fina arquitetura e ousado paisagismo, os jardins foram projetados a partir das janelas, ou seja, criados para serem apreciados. Para cada ala, salão, galeria, uma paisagem diferente no exterior tão luxuosa quanto o interior do castelo. Sair de Versailles às 23h30 foi como participar de um baile de contos-de-fadas. Fica a certeza que, agora, vale uma visita durante o dia, mas guiada pela memória noturna das cenas, imagens e sombras do castelo.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Das coisas curiosas da vida



Na última quinta, estava eu em um bar aqui em Paris chamado "Favela Chic". Bom, quem já trabalhou em uma favela sabe que de chique uma favela não tem nada, mas o bar usa o "conceito" e blá blá blá, portanto, cabe, "entre aspas", o nome. Lá, fui ver um show de uma carioca, Tatiana Dauster, com 3 músicos: um percussionista cubano (Inor, que fez um xique-xique de tampinhas de garrafa); um flaustista francês (Bertrand, que já tocou no Farofa Carioca) e um guitarrista brasileiro (Jay, que de Minas conhece muito bem Corinto). O show foi muito legal, cheio de referências contemporâneas, mas sem perder o molejo do samba. O repertório dançante levantou as pessoas que foram jantar e lotou a pista de dança. Mas o que me deixou intrigada foi uma fala do percussionista. Em uma conversa sobre Cuba, Guantanamo, abertura, cinema e diversidade cultural, ele soltou uma frase que ficou retumbando em minha cabeça. "Cuba e o Brasil são muito parecidos. Da América Latina, acho que são os dois países mais parecidos". Olha, não passamos por uma ditadura de esquerda tão longa, mas por uma de direita que ainda reverbera em nossas vidas; a música é uma das referências culturais mais fortes que temos; a cultura africana é intrínseca em nossas raízes; a culinária tem como marca a diversidade; uma miséria avassaladora e uma riqueza vergonhoza compoem uma paisagem naturalmente privilegiada;  e por aí vai. Com dimensões que variam de ilha a continente, Cuba e Brasil são países latinos. Mercados potenciais e culturalmente borbulhantes, agora, os dois países soam, para mim, um pouco irmãos. Pode ser papo de quem "está" estrangeiro, mas foi uma comparação que eclodiu uma curiosidade sem precedentes em mim.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Portishead no Le Zénith

Em 1991, surgiu na cidade de Bristol, na Inglaterra, uma cena independente que, de certa forma, influenciou toda essa onda eletrônica que faz parte do rock nos dias atuais. Massive Attack, Tricky e Portishead encabeçaram essa mudança de comportamento e sonoridade. De todos, o Portishead foi e ainda é o mais célebre. Criado por Beth Gibbons, Geoff Barrow and Adrian Utley, o grupo do Reino Unido tem nas trilhas dos filmes de espionagem uma grande influência, daí a larga utilização das músicas deles no cinema. Beleza Roubada, O senhor da Guerra, Batman & Robin, Psicopata Americano, dentre outros longas trazem as canções do grupo inglês. E nos dias 5 e 6 de maio de 2008, aqui em Paris, o grupo subiu ao palco do Le Zénith para mostrar a última criação. O Portishead tem 3 discos de estúdio: Dummy de 1994; Portishead de 1997 e o récem lançado Third de 2008. O grupo ainda gravou um disco ao vivo acompanhado pela Filarmônica de Nova York, o álbum Roseland NYC Live de 1998. No entreato, cada um seguiu carreira solo. Gravaram outros discos, participaram de coletâneas, montaram gravadoras, mergulharam na música eletrônica e se encontraram em outubro de 2007 para criar o terceiro disco. O show no Le Zénith trouxe um trio para lá de turbinado. Os 3 integrantes da banda subiram ao palco acompanhados de 2 djs e um bateirista. A sonoridade foi impressionante! Assim que o show começou, um texto em português, mas português do Brasil, não de Portugal, introduziu a banda. Confortáveis, desencanados e nem um pouco apressados, o que causou um certo incômodo nos franceses, banda e músicos convidados fizeram um belo concerto. Copos d'água, cadeiras, sintetizadores e câmeras lado a lado com os artistas no palco. Sucessos, é lógico, fizeram parte da apresentação. Mas uma coisa muito interessante é a forma como eles utilizam as bases eletrônias. Eu tenho minhas restrições quanto a música só eletrônica. Parece que falta algo. Mas, ontem, no show, isso deu uma guinada. Vi e ouvi artistas criarem bases e momentos maravilhosos para a voz (no caso atormentada e belíssima de Beth Gibbons), para a guitarra, o baixo e o banjo. A música estava em primeiro plano, não um computador. Em tempo real, a performance no palco era editada e exibida em 3 telões que funcionavam como cenário e suporte de luz. Uma metalinguagem interessantíssima para um grupo que tem no cinema fonte de inspiração e diálogo. Tranquilos, eles voltaram para um bis, fizeram um show de 2 horas e ainda brindaram com garrafinhas de cerveja a apresentação.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Désengagement


Imagine uma situacão em que um homem e uma mulher se encontram em um trem. Em meio a cigarros, pequenas confições e a paisagem que passa, os dois vivem um entreato de paixão. Até agora, normal. Mas e se esse homem for judeu e essa mulher palestina?! Para o diretor Amos Gitai, nada muda. Muito pelo contrário. A situacão fica potencializada e o desejo jorra como um simples ato de possibilidade. "Désengagement", nova obra cinematográfica do artista israelense, não é um filme panfletário e nem dá respostas banais sobre um conflito ainda sem solução. O diretor e roteirista criou um história simples: uma francesa de origem judia (Juliette Binoche) deve ir ao encontro da filha que abandonou há anos em Israel e avisá-la da morte do avô. Com a ajuda do imão adotivo, encarnado pelo talentoso e belo Liron Levo, essa mulher cruza uma zona de conflito na Faixa de Gaza para encontrar a filha. O curioso é que o longa não é um super sucesso, nem algo fora do normal. É um filme simples, com planos imensos em que a ação se desenrola no tempo da emoção, não no tempo da edição. O que pega mesmo é como aquelas pessoas, o lugar onde elas estão, as questões de ordem duramente familiar e os conflitos são guiados pelo fundamentalismo seja do lado palestino ou israelense. Désengagement termina como começa, no ar, sem resposta pronta e sem solução. A violência, as fronteiras, os ideais ficam no reino das idéias, na imaginação de quem acaba de ver o filme.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

UE - uma construção

Vir para a França é entrar no olho do furacão da União Européia. Por aqui, o Euro impera! É a moeda da vez para os investidores e o melhor "passaporte" para quem quer consumir o que quer que seja. Mas o mais curioso é a mudança de comportamento que uma moeda tão nova como o Euro implica na vida das pessoas. Mesmo que em supermercados e lojas na França ainda exista a conversão para o antigo Franco, os costumes e as relações entre os países europeus mudam a cada dia. Um exemplo simples dessa mudança é a circulação dos europeus no continente. Para aqueles que fazem parte da UE, basta apresentar a carteira de identidade. Passaporte só para estrangeiros e para os que ainda não integram o bloco. Ah... e este ano, a União Européia atinge o número de 27 países. Romênia e Bulgária entram para a comunidade e a mudança da moeda já começa a sacudir os ânimos das nações. O por quê? Muito simples! Na Romênia, o salário mínimo é algo em torno de 300 euros. Na UE, 1000 euros. Bom, para te situar melhor no tempo e no espaço, a idéia de uma Europa unida surgiu após a Segunda Grande Guerra, mais precisamente nos anos 50 com a atuação em conjunto de figuras como o general Charles de Gaulle, o empresário alemão Conrad Adenauer e do investidor francês Jean Monet. Já em 1957, foi criado o primeiro "Mercado Comum Europeu" com a assinatura do Tratado de Roma. 34 anos depois, em 1991, o Tratado de Maastrich institui a primeira zona de livre comércio européia, mas com a adesão de apenas 12 países. Em 1999, a União Européia ganha uma sede na cidade de Strasbourg. Agora, não só as relações econômicas tem peso. Uma corte de justiça européia, um fundo social e um Parlamento eleito por voto marcam uma mudança de mentalidade. Mas a grande virada mesmo foi no dia 1 de Janeiro de 2002 com a circulação do Euro. Em uma Europa cheia de estrangeiros e de pessoas vindas das antigas "colônias", uma moeda comum é a chave mestra. Afinal, quem possuir a senha entra na jogada e começa a lidar de igual para igual com aqueles que já fazem parte do jogo.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

A cidade

Gertrude Stein define Paris como uma cidade "calma e excitante". Até agora, não encontrei outra definição tão precisa para Paris como essa. Durante o dia, a qualquer hora, em qualquer lugar, milhares de turistas se amontoam para comprar, ver, consumir tudo o que essa cidade tem para oferecer. Já nos parques, praças e bibliotecas, estudantes e afins disputam um banquinho ou uma cadeira para ler, ver, se entreter com algo. No metrô, pelo menos 3 pessoas por vagão com algum livro, revista ou jornal. Nas ruas, é difícil andar sem trombar com sacolas e embalagens. Seja de uma grande loja de departamentos, de um supermercado ou de uma loja de luxo, elas fazem parte da paisagem. Mas é durante a noite que todos os gatos ficam pardos e meio loucos! "A cidade não pára!" Gente subindo, gente descendo, gente rindo, bebendo, se divertindo, dançando, andando, fumando... ah... ufa! E olha que no fim de semana o metrô pára à 1h40. E isso é o de menos. Para você entender: 4 horas da manhã a rua lotada em locais como République, Belleville e Ménilmontant! Só fica em casa quem quer ou quem não está afim de deslocar, pois aqui a palavra de ordem é o deslocamento.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Seu pedido é uma ordem

Vista da Torre Eiffel da margem direita do Sena. Domingo, os carros são proibidos. A pista á para os "piétons".
Em Paris, são as férias escolares. As praças estão lotadas de crianças. Ah... esse é o Châtelet!
Elas, as crianças, brincam em volta dos monumentos, sobem em árvores e são as donas das praças e parques. Cuidado para não levar uma bolada!




Vista do alto da Torre Eiffel! Esse aí é o Campo de Marte.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

"Palco, templo sagrado do ator..." A.A.




Uma das primeiras frases que ouvi sobre teatro foi: "...palco: templo sagrado do ator, ritual onde postulamos a nossa fé, é aqui o lugar onde os corpos se preparam para as batalhas". Quem escreveu isso foi Antonin Artaud. O mesmo autor que marcou como ferro em brasa a minha vida há 17 anos foi o impulso para que o diretor Peter Brook deixasse sua confortável carreira em Londres e partisse para uma aventura teatral na França. Estas fotos são do teatro Bouffes du Nord, local que Peter e sua trupe de atores multiculturais adotaram nos anos 60. Estamos em 2008, o teatro, hoje, é patrocinado pelo Governo francês. Peter Brook é um dos nomes mais reconhecidos das artes cênicas no mundo, mas ali, naquele espaço, naquele teatro, continua a existir algo de primitivo, uma fonte pura para quem dessa água deseja beber. Ir ao Bouffes du Nord é uma experiência sensorial. Atravessar o limiar daquela porta e entrar em um mundo dedicado ao sagrado e ao profano (que é o fazer teatral) foi emocionante. Vi a peça "Fragments". Peter Brook escolheu 5 cenas de 5 peças de Samuel Beckett e reuniu os fragmentos em uma peça teatral. Como o próprio Beckett escrevia em francês e inglês, e traduzia as próprias peças para ambos os idiomas, Brook fez uma doce brincadeira. Durante a semana, a peça é apresentada em inglês, mas com as legendas em hologramas nas paredes em francês. No fim de semana, o contrário. O resultado extraordinário é uma extensão desse espaço. Momento a ser guardado para a vida toda!

sábado, 12 de abril de 2008

Um ciclo de palestras com Edgar Morin


Pensamento descentralizado, humanidade, O Método e complexidade. Sexta e sábado, participei de um ciclo de palestras com o historiador, filósofo e antropólogo Edgar Morin. Organizado pela Mairie de Paris, o debate foi gratuito. Estudantes, professores, colegas da universidade, amigos, interessados, jornalistas... O Palais de Métallons ficou pequeno para tanta gente e idéias. Do alto dos 87 anos de idade, lá estava Edgar Morin. Sorridente e muito educado, ele discutiu sua obra com pesquisadores e com o público em 3 debates, na sexta-feira: Humanidade, Novas Mídias e Complexidade. No sábado, trechos do documentário sobre o pensador e as perguntas e homenagens do público deram o tom do encontro. Ainda sob o efeito das palavras de Morin, elocubro como um homem que cruzou o século XX e ainda atua no século XXI influencia tantas pessoas em continentes tão diversos. Dois professores, um do Congo e outro da África do Sul, foram até lá prestar homenagem a Morin. Bem humorado e levemente irônico, Edgar falou da obra que construiu com muito desapego. Segundo ele, nós, os leitores, somos os co-autores de qualquer obra literária, inclusive a dele. Sem nós, ele não teria feito nada. Do cinema a cultura de massas; das estrelas a questão dos judeus no mundo moderno; da literatura ao pensamento complexo, Morin é autor de um pensamento aberto e descentralizado. Voltado para a cultura, mas a partir do ponto de vista antropológico, Morin tem uma obra marcada por questões vigentes na contemporaneidade. Segundo uma aluna, ex-orientanda e colega de Sorbonne, Morin é um daqueles pesquisadores que não dá para etiquetar. Pensador voltado para a resistência, ele ainda volta os olhos para as minorias, para aqueles que estão à margem. Lugar, que segundo ele, sempre foi o seu.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

sábado, 5 de abril de 2008

Funny Games U.S.

Vários diretores de diversas nacionalidades foram convidados para filmar em Hollywood. Muitos aceitaram e fizeram belos filmes (François Truffault, Fernando Meirelles, Alejandro Goanzáles-Inhãrritu, Milos Forman), outros não foram tão felizes (Alfonso Cuaron, Terry Gillian) e alguns, mais afortunados, simplesmente, viraram as costas e continuaram a fazer seus filmes sem cortes de estúdio, sem roteiros adaptados e sem a intervenção rigorosa dos empresários do cinema (Ingmar Bergman, Claude Chabrol, Fellini, Godard). Mas, em pleno século XXI, uma nova possibilidade chega a Hollywood. O diretor, roteirista e ator alemão Michael Haneke filmou no ano passado a versão americana do longa FUNNY GAMES. Mais conhecido pelos filmes A PROFESSORA DE PIANO e CACHÉ, Haneke fez uma obra prima sobre e a violência em 1997. Com uma força impressionante e um roteiro de tirar o fólego (e o chapéu), FUNNY GAMES foi classificado como horror, drama e thriller. O grande ator alemão Ulrich Muhe, falecido no ano passado e protagonista do belo A VIDA DOS OUTROS, fez parte da primeira versão. O detalhe importante dessa história toda é que Haneke não apenas refilmou o próprio longa. Ele manteve os mesmos planos, o cenário é idêntico, os cortes, o roteiro, a trilha, o figurino, enfim, só os atores mudaram. Fica muito claro que Haneke é um diretor, assim como Bergman, que fala sobre a geografia da alma, sobre espaços, arestas e buracos que são de todos nós. Não importa o país, o filme é o mesmo, pois a denúncia é a mesma. A versão norte-americana traz Naomie Watts e Tim Roth nos papéis que foram de Susanne Lothar e Ulrich Muhe. No Brasil, o primeiro FUNNY GAMES só circulou por festivais independentes e em locadoras bem especiais, mas com o título deplorável de VIOLÊNCIA GRATUITA. Já o novo FUNNY GAMES traz no nome as siglas U.S. Um cuidado de Haneke com a própria obra e uma subversão ao status da indústria norte-americana.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Ingrid, Tibet e boom!



Não é novidade para ninguém que a França tem um papel ativo em prol da democracia no mundo. Seja em causas humanitárias, sociais ou de estado, os franceses se aprumam quando o assunto é liberdade, igualdade e fraternidade (, mas que fique claro, tudo isso fora da França). Qual o motivo da minha colocação? Ontem, 1 de abril, o Presidente, Nicolas Sarkozy, fez uma declaração na TV em prol da libertação de Ingrid Betancourt pelas FARC, na Colombia. Ele inssistiu em enviar uma equipe meedica francesa para zelar pelo bem de Betancourt. Questionada sober a ajuda humanitária, a Cruz Vermelha declarou que o Presidente não os incluiu em nenhuma negociação com a guerrilha. Mas não é só isso! Por toda Paris, é possível ver declarações a favor da independência do Tibet. Seja uma bandeira ou apenas uma pixação, a postura dos franceses está lá, bem demarcada aos olhos do mundo. Mas curioso mesmo é descobrir que a segunda indústria que traz mais dinheiro para a França, após, é claro, o turismo, seja a tecnologia nuclear. A França importa pesquisadores e tecnologia para quase todos os países que se metem com a tal energia nuclear.

Soirée Slam - poesie vivante

Um encontro entre amigos, um encontro de poesia, um momento especial de troca pode ser chamado de soirée aqui na França. Segunda, dia 30/03, participei de uma Soirée Slam. Artistas, poetas e entusiastas das letras se encontram para declamar poemas, mas não com voz dura de "isto é um poema". Eles vivem a poesia como atores vivem a cena em um palco. Cada um a seu modo apresenta um texto ou de improviso ou escrito previamente. É quente, único e empolgante. Algo bem raro por aqui! O melhor é que o slam vem do gueto, da periferia. A voz de quem está à margem (literalmente) e se coloca de forma intensa e artística. Misto de hip-hop, rap, funk, reggae e Vivenciar uma Soirée Slam é uma das melhores coisas que fiz até agora na França. Delicado, arrojado, pouco pretencioso, mas muito autêntico, o slam não é algo tipo exportação. É resultado de um momento específico na história desse país e tem a força das asas de um borboleta. Para conhecer um pouco do Slam, que tem um brasileiro pulsante criando poesias e atraindo novos entusiastas, acesse o myspace do poeta Zefere ou conhece o belo trabalho de Souleymane Diamanka.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Les Éphémères

Vir a Paris e poder conhecer o Thêatre du Soleil é uma experiência delicada e forte. Imagine um grande galpão dividio em 2 palcos, livraria, bar e tenda de ensaios. Assim é o espaço do Soleil na Cartoucherie, antiga fábrica de armas e hoje casa 4 grupos de teatro em Paris. Les Éphémères é o nome do espetáculo que vi no domingo. A idéia é muito comum nos dias de hoje: várias cenas, no caso 29, que se cruzam, se trombam e inteferem ou não uma na outra. Em cena, 32 atores de 4 a 70 anos de idade. Isso mesmo, criancas, velhos, homens e mulheres de todas as idades. A presença forte da brasileira Juliana Carneiro da Cunha, atriz do grupo há quase duas dácadas, é visível em grande parte das cenas. Ela passa pelas cenas como persongem principal ou participação afetiva. Mas o que me pôs de joelhos perante a apresentação de 6h30 (isso mesmo: seis horas e trinta minutos de peça) é a habilidade de Ariane Mnouchkine de construir uma forma única para contar uma história. Cada cena deslizava pelo palco em pequenos platos empurrados por 2 ou 3 atores.
Cada pequeno momento de intimidade fluía no palco e passava de um lado a outro da arena como pequenos quadros vivos, pequenas lembranças que vão e voltam em nossa memória. Alguns atores souberam dar o tom acima do real, do natural, do cotidiano que as cenas super simples e plausíveis pediam. Mas a construcão, a forma como Ariane, a meteur-en-scène, criou aquilo tudo é que é de tirar o chão. Ainda estou sob o efeito de tanta simplicidade e beleza. Realmente, 6h30 de peça é algo difícil de imaginar. Mas é possível pelo tom e pela idéia!

quarta-feira, 26 de março de 2008

Futebol com franceses

Hoje, em um café, acabei vendo o jogo de futebol da França com a Inglaterra. As pessoas e o dono do bar me perguntaram para quem eu torcia. Foi irresistível falar que eu sou brasileira e ver a cara deles. Com um sorriso largo no rosto, todos, 4 homens de idades diferentes, fizeram questão de lembrar o 3x0 entre Brasil e França. E deixaram claro: Zidane é o açougueiro do Brasil e coisa e tal. Olha, não curto futebol, mas as reações são tão engraçadas que eu queria uma máquina aqui para registrar. Futebol não é só uma paixão nacional, como dizem no Brasil! É um caso sério de amor e loucura entre o sexo masculino, a bola e os gladiadores que correm de um lado para o outro. Em um jogo, sempre espero pelo 0x0. Acho um resultado justo e menos barulhento. Só que hoje, contra a Inglaterra, vou torcer para a França. Os franceses não sorriem muito. São bem sérios e não se abrem facilmente, mas, no bar, eles sorriram beaucoup para mim e para o match.

terça-feira, 25 de março de 2008

Europa - Paris - França

Meus caros leitores e amigos, teremos mudanças por aqui. A partir de hoje, começo um singelo projeto em meu blog. Ao invés de falar do Brasil, dou minhas opiniões e pontos de vista daqui da Europa. Durante uns 6 meses, devo postar notícias sobre os costumes, modos, curiosidades e affaires do Velho Mundo. Não será nada encomendado ou terceirizado. Por enquanto, faço por conta própria e aqui no blog que vos fala "na larga". Meus companheiros do Coletivo PDM estão à todo vapor com o possível programa de rádio. Eu faço um leve promenade pelo Velho Continente e envio impressões sobre a vida do lado de cá. Completamente agasalhada e com 5 graus para enfrentar, não vou me ater a preceitos jornalísticos. Serão opiniões selvagens e bem pouco politicamente corretas. Que delícia!

Exemplo: a imprensa por aqui bate sem dó no Presidente Nicolas Sarkozy. Motivo: o discurso é um e a fala é outra. Só o enlace com a diva Carla Bruni é aceito pelo povo francês. De resto, Sarkozy é visto como ex-corno (a ex-primeira dama já se casou com o namorado Richard), defensor da extrema direita (ainda se usa esse tipo de denominacão), a favor de programas nucleares (o novo submarino francês movido a energia nuclear foi batizado pelo Presidente de "Le Terrible") e simpatizante dos conservadores americanos (Sarkozy tirou fotos abraçado com o candidato ao cargo de presidente do EUA, Mister Cain). Olha, bem que a imprensa brasileira podia deixar de lado a "bondade" velada e dar uma boa chamada em nosso Presidente. Por aqui, tem gente que ainda sente falta de FHC. Surpreendente! Menos politicamente corretos que nós e bem mais ferinos, os jornalistas franceses criticam o que vêem pela frente. Bom, né!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Êta carnaval...




Fotos: Guilherme Dutra ou videomeiquer.blogspot.com

Eu vou pra maracangalha, eu vou...

Para quem ainda não esqueceu o carnaval, um último suspiro, ou melhor grito, marcado para o dia 29 de fevereiro, promete saciar a saudade dos amigos de Momo. A Festa Maracangalha traz a ressaca de carnaval para o espaço Gafieira Elite. Aos acordes dos Djs Fukô e Aroldo, o line up da noite promete! Pérolas de Tom Zé, Jorge Ben, Mutantes, Tim Maia (Racional), Nação Zumbi, frevo, coco e maracatu já estão agendadas. E para quem quiser escutar a música preferida da festa da carne, aquela que marcou o feriado (no meu caso, beber, cair e levantar - conto o motivo em outro post), basta enviar um email para euvoupramaracangalha@gmail.com e pautar os dois djs. Ah, para os mais desavisados, o endereço da Gafieira Elite é Rua Frei Caneca, número 4, no Centro. Ingressos: 10 reais para quem enviar um email e incluir o nome na lista; 12 reais antes da meia-noite e 15 depois das doze badaladas.