sexta-feira, 16 de maio de 2008

Das coisas curiosas da vida



Na última quinta, estava eu em um bar aqui em Paris chamado "Favela Chic". Bom, quem já trabalhou em uma favela sabe que de chique uma favela não tem nada, mas o bar usa o "conceito" e blá blá blá, portanto, cabe, "entre aspas", o nome. Lá, fui ver um show de uma carioca, Tatiana Dauster, com 3 músicos: um percussionista cubano (Inor, que fez um xique-xique de tampinhas de garrafa); um flaustista francês (Bertrand, que já tocou no Farofa Carioca) e um guitarrista brasileiro (Jay, que de Minas conhece muito bem Corinto). O show foi muito legal, cheio de referências contemporâneas, mas sem perder o molejo do samba. O repertório dançante levantou as pessoas que foram jantar e lotou a pista de dança. Mas o que me deixou intrigada foi uma fala do percussionista. Em uma conversa sobre Cuba, Guantanamo, abertura, cinema e diversidade cultural, ele soltou uma frase que ficou retumbando em minha cabeça. "Cuba e o Brasil são muito parecidos. Da América Latina, acho que são os dois países mais parecidos". Olha, não passamos por uma ditadura de esquerda tão longa, mas por uma de direita que ainda reverbera em nossas vidas; a música é uma das referências culturais mais fortes que temos; a cultura africana é intrínseca em nossas raízes; a culinária tem como marca a diversidade; uma miséria avassaladora e uma riqueza vergonhoza compoem uma paisagem naturalmente privilegiada;  e por aí vai. Com dimensões que variam de ilha a continente, Cuba e Brasil são países latinos. Mercados potenciais e culturalmente borbulhantes, agora, os dois países soam, para mim, um pouco irmãos. Pode ser papo de quem "está" estrangeiro, mas foi uma comparação que eclodiu uma curiosidade sem precedentes em mim.

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