
Imagine uma situacão em que um homem e uma mulher se encontram em um trem. Em meio a cigarros, pequenas confições e a paisagem que passa, os dois vivem um entreato de paixão. Até agora, normal. Mas e se esse homem for judeu e essa mulher palestina?! Para o diretor Amos Gitai, nada muda. Muito pelo contrário. A situacão fica potencializada e o desejo jorra como um simples ato de possibilidade. "Désengagement", nova obra cinematográfica do artista israelense, não é um filme panfletário e nem dá respostas banais sobre um conflito ainda sem solução. O diretor e roteirista criou um história simples: uma francesa de origem judia (Juliette Binoche) deve ir ao encontro da filha que abandonou há anos em Israel e avisá-la da morte do avô. Com a ajuda do imão adotivo, encarnado pelo talentoso e belo Liron Levo, essa mulher cruza uma zona de conflito na Faixa de Gaza para encontrar a filha. O curioso é que o longa não é um super sucesso, nem algo fora do normal. É um filme simples, com planos imensos em que a ação se desenrola no tempo da emoção, não no tempo da edição. O que pega mesmo é como aquelas pessoas, o lugar onde elas estão, as questões de ordem duramente familiar e os conflitos são guiados pelo fundamentalismo seja do lado palestino ou israelense. Désengagement termina como começa, no ar, sem resposta pronta e sem solução. A violência, as fronteiras, os ideais ficam no reino das idéias, na imaginação de quem acaba de ver o filme.
