Flerte
Ontem te vi passar pelo calçadão
Estavas leve, entregue ao acaso.
Talvez perdida em suas próprias abstrações
Talvez incerta de minha ausência
Ontem te vi passar
Vingando em mim tua nudez
Afagando meu penar indiscreto
Que sem lhe pedir licença
tocava-lhe o corpo com o meu olhar.
Ontem te vi como se em mim
Chorasse um eu profundo
Inundado em tua pele
em teu rosto
A navegar em mim um relapso do tempo
Que quando passa não traz os desavisos da memória.
Ontem te vi passar
Como o passado em mim
Transcorrendo as páginas de um museu inquieto
À espera que a arqueologia de conta do tempo e das tristezas dos homens
Ontem te vi passar
e quando o instante passou
Sem medo e sem ciúme
Vi o reflexo do teu rosto em minhas lágrimas
Antecipando em fim o seu olhar.
Helder/ 07
Um comentário:
Não perca, domingo, no áudio e visual: O quarto das cinzas... Poema lindo.
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